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Pandemias e suas consequências à história!

Na Carta Encíclica do Papa Francisco “Fratelli Tutti” (FT) – “Todos Irmãos”, sobre a fraternidade e a amizade social, publicada em 3 de outubro de 2020, em Assis, encontramos alguns pontos importantes da pandemia e suas consequências à história. Vamos à reflexão do Papa (cf. FT nn. 32-36).

É verdade que uma tragédia mundial, como a pandemia de Covid-19, reviveu momentaneamente a sensação de que somos uma comunidade global, todos no mesmo barco, onde os problemas de uma pessoa são os problemas de todos. Mais uma vez, percebemos que ninguém é salvo sozinho; só podemos ser salvos juntos. Como eu disse naqueles dias, a tempestade expôs nossa vulnerabilidade e desvendou aquelas certezas falsas e supérfluas em torno das quais construímos nossas agendas diárias, nossos projetos, nossos hábitos e prioridades... Em meio a essa tempestade, a fachada desses estereótipos com os quais camuflamos nossos egos, sempre preocupados com as aparências, se distanciaram, revelando mais uma vez a inelutável e abençoada consciência de que somos parte um do outro, de que somos irmãos e irmãs.

O mundo caminhava implacavelmente para uma economia que, graças ao progresso tecnológico, buscava reduzir os “custos humanos”; havia quem quisesse que acreditássemos que a liberdade de mercado era suficiente para manter tudo seguro. No entanto, o golpe brutal e imprevisto desta pandemia descontrolada nos forçou a recuperar nossa preocupação pelos seres humanos, por todos, ao invés de para o benefício de alguns. Hoje podemos reconhecer que nos alimentamos de sonhos, de esplendor e grandeza, e acabamos consumindo distração e solidão. Procuramos resultados rápidos e seguros, apenas para nos encontrarmos oprimidos pela impaciência e ansiedade. A dor, a incerteza, o medo e a compreensão de nossas próprias limitações, provocadas pela pandemia, só tornaram ainda mais urgente que repensemos nossos estilos de vida, nossos relacionamentos, a organização de nossas sociedades e, acima de tudo, o significado da nossa existência.

Se tudo estiver conectado, é difícil imaginar que este desastre global não tenha relação com a nossa forma de abordar a realidade, a nossa afirmação de sermos mestres absolutos de nossas próprias vidas e de tudo o que existe. Não quero falar de retribuição divina, nem seria suficiente dizer que o dano que fazemos à natureza é, em si, a punição por nossas ofensas. O próprio mundo está clamando em rebelião... 

 “O mestre da vida”

Rapidamente, porém, esquecemos as lições de história, “o mestre da vida”. Uma vez que essa crise de saúde passe, nossa pior resposta seria mergulhar ainda mais fundo no consumismo febril e em novas formas de autopreservação egoísta. Se Deus quiser, depois de tudo isso, não pensaremos mais em termos de “eles” e “aqueles”, mas apenas “nós”. Se ao menos isso pudesse não ser apenas mais uma tragédia da história da qual nada aprendemos. Se ao menos pudéssemos ter em mente todos aqueles idosos que morreram por falta de respiradores, em parte como resultado do desmantelamento, ano após ano, dos sistemas de saúde. Oxalá esta imensa dor não se prove inútil, mas nos permita dar um passo em frente rumo a um novo estilo de vida. Se pudéssemos redescobrir de uma vez por todas que precisamos uns dos outros, e que desta forma nossa família humana pode experimentar um renascimento, com todos os seus rostos, todas as suas mãos e todas as suas vozes,

A menos que recuperemos a paixão compartilhada de criar uma comunidade de pertença e solidariedade digna de nosso tempo, nossa energia e nossos recursos, a ilusão global que nos enganou entrará em colapso e deixará muitos nas garras da angústia e do vazio.  

Dom Edgar Ertl Bispoa da Diocese de Palmas e Francisco Beltrão

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